Ludovice Ensemble e André Baleiro
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- Concertos
Ludovice Ensemble e André Baleiro
“O BARÍTONO NA PAIXÃO“
21:30
SINOPSE
Neste concerto, ouviremos as mais belas páginas escritas para a Paixão de Cristo, na voz do Barítono André Baleiro, que será acompanhado pelo agrupamento, Ludovice Ensemble.
BIOGRAFIAS
Ludovice Ensemble
O Ludovice Ensemble é um grupo especializado na interpretação de Música Antiga, sediado em Lisboa e criado em 2004 por Fernando Miguel Jalôto e Joana Amorim, com o objetivo de divulgar o repertório de câmara vocal e instrumental dos séculos XVII e XVIII através de interpretações historicamente informadas e usando instrumentos antigos. O nome do grupo homenageia o arquiteto e ourives alemão Johann Friedrich Ludwig (1673-1752) conhecido em Portugal como Ludovice. O grupo trabalha regularmente com os melhores intérpretes portugueses especializados, e também como prestigiados artistas estrangeiros.
Apresentou-se em Portugal nos principais festivais nacionais - nomeadamente o Cistermúsica de Alcobaça, o Terras sem Sombra no Baixo Alentejo, os Festivais de Outono de Aveiro, o Festival In Spiritum e o Ciclo de Música de Câmara do Palácio da Bolsa no Porto, o Festival Internacional de Polifonia Portuguesa em Braga e Famalicão, o Música em S. Roque de Lisboa, os Encontros de Música Antiga de Loulé, o Festival de Órgão da Madeira, o Festival de Leiria e o Sons de Almada Velha - mas também em Viana do Castelo, Gaia, Óbidos, Castelo Branco, Évora, Almodôvar, Lagos ou Tavira. É uma presença regular nas duas principais salas de Lisboa: o CCB e a Fundação Calouste Gulbenkian e foi o grupo escolhido para representar Portugal no encontro do Réseau Européen de Musique Ancienne / REMA em 2011, na Casa da Música.
No estrangeiro apresentou-se no festival Laus Polyphoniae na Bélgica (AMUZ, Antuérpia), no festival Oude Muziek de Utrecht (Países Baixos); nos festivais de La Chaise-Dieu, Musiques en Vivarais-Lignon, e Festes Baroques de Bordéus (França); no festival de Música Barroca de Praga (República Checa); no Festival Felicja Blumental de Tel-Aviv e na Universidade Mórmon de Jerusalém (Israel); nos festivais Camiños de Santiago de Jaca, nos festivais de música antiga de Aranjuez, Daroca, Peñíscola, no Ciclo de las Artes de Lugo, no Febrero Lirico do Real Coliseo Carlos III de San Lorenzo del Escorial, na Semana de Musica Antigua de Vitoria-Gasteiz (Espanha) e no Festival Ibérico de Badajoz. Gravou ao vivo para a RDP-Antena 2, a Rádio Nacional Checa (ČRo) bem como para o canal de televisão francês MEZZO. O seu primeiro CD, para a editora Franco-Belga Ramée/Outhere, foi nomeado em 2013 para os prestigiados prémios ICMA na categoria de Barroco Vocal.
O Ludovice Ensemble comemorou os seus 10 anos com um concerto no CCB, onde apresentou ainda uma ópera de Caccini em colaboração com o grupo belga Huelgas Ensemble/Paul Van Nevel e dois concertos dirigidos pelo famoso violinista italiano Enrico Onofri. Do seu trabalho mais recente destacam-se a apresentação no CCB de: Le Bourgeois Gentilhomme de Moliére/Lully, das monumentais Vésperas de Nossa Senhora de 1610 de Monteverdi, e da oratória Cain ovvero il primo omicidio de Scarlatti. Ao Grande Auditório da Fundação Gulbenkian levou as óperas Idylle sur la paix de Lully e Les Arts Florissants de Charpentier e um original programa de música barroca judia-sefardita. Em 2018 destacaram-se ainda três concertos no Festival de Música Antiga dos Pirenéus, um concerto de música renascentista do Festival Ibérico de Badajoz, um programa de música húngara no Festival Terras sem Sombra, e uma colaboração a convite do Ensemble Phoenix (Israel) com concertos em Jerusalém, Haifa e Telavive.
Em 2019 colaborou com o mediático Teatro Praga numa produção da obra Timão de Atenas, a partir de Shakespeare e Purcell, com três récitas no CCB. Estreou-se no prestigiado Festival de Música Antiga de Bruges, na Bélgica; visitou Dublin, na Irlanda, a convite da embaixada portuguesa, e regressou ao Cistermúsica de Alcobaça, com 4 cantatas de J. S. Bach, entre vários outros concertos e recitais. Em 2020 lançou um álbum duplo do Ludovice Ensemble com 6 sonatas inéditas de C. H. Graun para flauta e cravo obrigado, pela editora inglesa Veterum Musica e estreou-se na Estónia, na Filarmonia de Tallin com o seu novo programa Sud-Express. Em 2021 dá continuidade a uma pequena tournée em Espanha com um programa de música renascentista comemorativo dos 500 anos da viagem de circunavegação de Fernão de Magalhães; apresenta a integral da Oferenda Musical no Festival de Marvão; regressa ao Festival de Música Antiga de Aranjuez; e apresenta recitais de música do barroco alemão em Sintra e Aveiro. Para 2022 está agendado o regresso ao festival Felicja Blumenthal em Telavive (Israel) para uma antologia de música portuguesa desde as Cantigas de Amigo até Lopes-Graça.
Fernando Miguel Jalôto
Fernando Miguel Jalôto completou os diplomas de Bachelor of Music e de Master of Music em Cravo no Departamento de Música Antiga e Práticas Históricas de Interpretação do Conservatório Real da Haia (Países Baixos), na classe de Jacques Ogg. Frequentou masterclasses com Gustav Leonhardt, Olivier Baumont, Ilton Wjuniski, Laurence Cummings e Ketil Haugsand. Estudou também órgão barroco e clavicórdio, e foi bolseiro do Centro Nacional de Cultura. É Mestre em Música pela Universidade de Aveiro e presentemente é Doutorando em Ciências Musicais | Musicologia Histórica na Universidade Nova de Lisboa como Bolseiro da FCT sob a orientação de Rui Vieira Nery e Cristina Fernandes. É fundador e diretor artístico do Ludovice Ensemble, um dos mais ativos e prestigiados grupos nacionais de Música Antiga. É membro da Orquestra Barroca Casa da Música (Porto) - com quem foi várias vezes solista em concertos de Seixas, J. S. Bach e C. Ph. E. Bach - e colabora com grupos especializados internacionais tais como Oltremontano, La Galanía, La Colombina, Capilla Flamenca, Collegium Musicum Madrid, Bonne Corde, etc. Apresentou-se em vários festivais e inúmeros concertos em Portugal, Espanha, França, Bélgica, Holanda, Luxemburgo, Reino Unido, Irlanda, Noruega, Alemanha, Áustria, Polónia, Bulgária, Israel, China e Japão. Toca regularmente com a Orquestra Gulbenkian (Lisboa) e apresentou-se com a Lyra Baroque Orchestra (Minnesota), a Real Escolania de San Lourenço d’El Escorial, a Orquestra da Radiotelevisão Norueguesa, a Camerata Academica Salzburg, a Orquestra de Câmara da Sinfónica da Galiza, a Real Filarmonia da Galiza, a Orquestra Sinfónica do Porto e a Orquestra Metropolitana de Lisboa, entre outras. Foi membro da Académie Baroque Européenne de Ambronay (França), da Academia MUSICA de Neerpelt (Bélgica) e da orquestra barroca Divino Sospiro. Trabalhou sob a direcção dos maiores directores especializados. Gravou para a Ramée/Outhere (com o Ludovice Ensemble), Brilliant Classics (Integral das Suites para Cravo solo de Dieupart), Dynamic (Concerto para cravo em sol menor de Carlos Seixas), Harmonia Mundi, Glossa Music, Parati, Anima & Corpo e Conditura Records, bem como para as rádios portuguesa, alemã e checa, e os canais televisivos Mezzo, Arte e RTP. Em 2019 apresentou um recital a solo dedicado à obra do compositor napolitano Giovanni Salvatore no prestigiante Festival Oude Muziek de Utrecht (Holanda), e outro recital a solo com obras de Froberger e Couperin integrado no Festival Internacional de Música de Évora. Foi solista com a Orquestra Barroca da Casa da Música no concerto para cravo e orquestra da compositora Friederike Sophie Wilhelmine da Prússia, sob a direcção de Amandine Beyer. Em 2020 apresentou recitais em Antuérpia, com obras de Dieupart e J. S: Bach, e em Espanha, com uma perspectiva sobre a música portuguesa para tecla. Para 2021 apresenta um recital a solo dedicado a Maria Bárbara de Bragança com sonatas a D. Scarlatti e C. Seixas a convite do Património Nacional (Espanha) no Palácio de la Granja de San Ildefonso. Como maestro dirigiu grandes obras do repertório barroco como as Vésperas de Monteverdi, várias missas e cantatas de Bach, oratórias de A. Scarlatti, óperas de Lully, Charpentier e Bourgeois, e motetos de Rameau, em salas como a Fundação Gulbenkian, o CCB e os festivais de Bruges e Utrecht.
PROGRAMA
Prelúdio-Coral "Nun komm, der Heiden Heiland" BWV 659
Ária "Leichtgesinnte Flattergeister" da Cantata "Leichtgesinnte Flattergeister", BWV 181
Sinfonia da Cantata Ich hatte viel Bekümmernis, BWV 21
Arioso "Betrachte, meine Seel, mit ängstlichem Vergnügen" da "Paixão segundo S. João", BWV 245
Andante (2º Andamento) do Concerto de Brandeburgo n.4, BWV 1049
Ária "Ächzen und erbärmlich Weinen" da Cantata "Meine Seufzer, meine Tränen", BWV 13
Concerto da Cantata "Geist und Seele wird verwirret", BWV 35
Recitativo "Der Heiland fällt vor seinem Vater nieder"
e Ária "Gerne will ich mich bequemen" da "Paixão segundo S. Mateus", BWV 244
(PAUSA)
Sinfonia da Cantata "Non sa che sia dolore", BWV 209
Ária "Ja, ja ich halte Jesum feste" da Cantata " Ich lasse dich nicht" BWV 157
Sinfonia: Presto da Cantata "Geist und Seele wird verwirret", BWV 35
Ária "Doch weichet, ihr tollen, vergeblichen Sorgen" da Cantata "Liebster Gott, wenn werd ich sterben", BWV 8
Sinfonia da Cantata "Ich steh mit einem Fuß im Grabe", BWV 156
Ária "Es ist vollbracht"
e Coral "Jesu, deine Passion" da Cantata "Sehet, wir gehn hinauf gen Jerusalem". BWV 159
NOTAS AO PROGRAMA
Este programa, especialmente criado para o Festival internacional de Música Religiosa de Guimarães, apresenta, através de um florilégio de algumas das mais belas árias sacras escritas por Johann Sebastian Bach para a voz de Baixo, uma meditação sobre a morte e ressurreição redentoras de Jesus Cristo, bem como sobre a fragilidade e brevidade da nossa própria existência. As peças vocais são intercaladas com igualmente belíssimas páginas instrumentais, na sua maior parte originárias em concertos orquestrais hoje perdidos, mas que subsistem como sinfonias introdutórias para várias cantatas. Esta prática de reaproveitamento era muito comum no período Barroco - uma época em que os nossos actuais conceitos de originalidade e apropriação ainda não existiam - e frequentemente praticada por Bach.
O Prelúdio-Coral "Nun komm, der Heiden Heiland" BWV 659 foi composto para órgão - segundo a indicação autógrafa "2 clav. & pedale" - e faz parte da colecção dos "18 Prelúdios para Órgão" compilados ao redor de 1748 e provavelmente compostos entre 1740 e 1748. O texto deste coral é da autoria de Martinho Lutero, e foi publicado em 1524. Baseia-se no hino ambrosiano "Vem, Redentor das Nações" e era usado sobretudo no início do Advento. O seu texto expressa a ansiedade do mundo perante a chegada eminente do Salvador, filho de uma Virgem, através de um nascimento miraculoso e alegre, mas desde o início destinado à morte, para salvação da Humanidade. A Cantata "Leichtgesinnte Flattergeister" BWV 181 foi composta para a Sexagésima - o penúltimo Domingo antes da Quaresma - sendo estreada no dia 13 de Fevereiro de 1724. Bach reutilizou-a em 1743 e 1746, de quando data a versão hoje apresentada. O Evangelho do dia é o da Parábola do Semeador, e o libreto da cantata é uma reflexão sobre os efeitos da palavra de Deus em cada pessoa que a escuta, e que opta por a aceitar nas suas vidas, ou a recusa, sob a nefasta influência do demónio.
A Sinfonia da Cantata BWV 21 foi composta em Weimar, em finais de 1713 e estreada em 1714, no terceiro Domingo após a Santíssima Trindade. Foi revista em Cöthen em 1720 para uma apresentação em Hamburgo, e a versão definitiva data de 1723. O Evangelho do dia era o do Bom Pastor que dá a vida pelas suas ovelhas, mas a expressão triste e dolorosa do andamento instrumental reflectem o versículo 19 do Salmo 93(94): "Multiplicaram-se as angústias no meu coração." Quanto à "Paixão segundo S. João," foi apresentada pela primeira vez a 7 de Abril de 1724, integrando a oração de Vésperas de Sexta-Feira Santa. É a mais antiga Paixão de Bach. Conhecem-se várias versões, datadas de 1725, 1732 e 1749, mas nenhuma delas pode ser considerada definitiva. O arioso para baixo foi originalmente escrito com um acompanhamento para alaúde solista, com duas violas d'amor, mas esta instrumentação algo exótica foi substituída por Bach nas versões mais tardias por uma parte de cravo ou órgão obrigado, e dois violinos com surdinas. A peça surge na segunda metade da obra, então cantada após o sermão, e medita sobre a cruel flagelação de Cristo, e a coroação de espinhos; as dolorosas marcas deixadas no corpo do Salvador pelos espinhos, chicotadas e flagelos são aqui contempladas como provas irrefutáveis do Amor divino.
O andamento central do Concerto de Brandenburgo n.4, BWV 1049, escrito para violino solo, duas flautas (de bisel) e orquestra, explora efeitos de eco e contraste entre um pequeno trio de solistas e o tutti, revelando marcada influência francesa. O concerto terá sido composto em Weimar ou, mais provavelmente em Cöthen, e a partitura autógrafa conhecida está datada de 1721, quando o compositor dedicou os seis concertos ao Margrave de Brandeburgo. Mais tarde Bach reutilizou a música, transposta e re-orquestrada, no seu sexto concerto para cravo e orquestra, BWV 1057. Já a Cantata "Meine Seufzer, meine Tränen", BWV 13 foi composta para o segundo Domingo após a Epifania e estreada a 20 de Janeiro de 1726. O Evangelho do dia relata as festivas Bodas de Canaã mas a cantata centra-se sobre a frase de Jesus "- Ainda não chegou a minha hora", que aqui é entendido como um prenúncio da Paixão. O uso das flautas (de bisel) é, nas obras vocais sacras de Bach, frequentemente associado à morte e ao sofrimento.
A Cantata "Geist und Seele wird verwirret" BWV 35 foi composta para o décimo-segundo Domingo depois da Santíssima Trindade, e estreada a 8 de Setembro de 1726. O festivo andamento intitulado Concerto, com órgão solista, introduz a primeira parte da Cantata, e outro andamento similar, intitulado Sinfonia, abre a segunda parte. São dois andamentos adaptados a partir de um concerto hoje perdido, provavelmente composto em Cöthen e presumivelmente destinado ao oboé. Subsiste uma versão incompleta, da década de 1730, para cravo solo e orquestra, BWV 1059. A "Paixão segundo S. Mateus" BWV 244 foi a segunda Paixão composta por Bach. É datada tradicionalmente de 1729 mas deverá ter sido composta ainda em 1727, sendo revista e reposta em 1736, 1742, 1743 e 1746. É uma obra monumental para dois coros e duas orquestras. Este recitativo e ária são cantados pelo baixo solista do segundo coro, ainda na primeira parte da obra, e comentam o momento da agonia de Jesus no Horto das Oliveiras, quando este diz: "- Pai, se possível afasta de mim este cálice; mas faça-se a Tua vontade e não a Minha." O crente solidariza-se com o imenso sofrimento de Jesus, e dispõe-se a acompanhá-lo na sua Paixão.
A sinfonia com flauta solo é o andamento introdutório para a cantata secular "Non sa che sia dolore" BWV 209, com texto em italiano, e composta provavelmente em 1747, já perto do final da vida de Bach, para uma celebração de despedida de um amigo. Este andamento deverá ter origem num concerto anterior, para flauta e orquestra, do qual não sobrevivem os restantes andamentos, e que poderá ter sido composto nas décadas de 1730 ou 1740, pois evidencia uma estética já muito próxima do estilo Galante, em voga na Alemanha em meados do século XVIII. O andamento "Ja, ja ich halte Jesum feste" apresenta uma estrutura muito complexa, misturando elementos da ária, do recitativo e do arioso, com um acompanhamento instrumental reminiscente de uma elegante sonata em trio para violino e traverso. Pertence à Cantata "Ich lasse dich nicht" BWV 157, uma cantata fúnebre, composta em 1726/27 e apresentada a 6 de Fevereiro de 1727, nas exéquias de Johann Christoph von Ponickau, camarlengo da corte da Saxónia. A versão original apenas incluía partes para traverso, violino e oboé d'amor, para além do baixo contínuo. Mais tarde Bach utilizou a obra na Festa da Purificação de Nossa Senhora - ou Apresentação de Jesus no Templo - a 2 de Fevereiro, acrescentando outras partes instrumentais. O texto é uma meditação sobre a morte cristã, a partir do mote "Não te deixarei partir antes que me abençoes", pronunciado pelo patriarca Jacob aquando da sua mítica luta com um anjo, descrita no livro do Génesis. Esta frase aparece aqui associada ao desprendimento da vida manifestado pelo velho Simeão, depois de ter visto e pegado em Jesus, aquando da Sua apresentação no templo de Jerusalém, e 40 dias após o nascimento. A ideia-chave é que quem confia em Cristo, e o tem no seu coração, não teme a morte, antes anseia por esse momento.
A ária "Doch weichet, ihr tollen, vergeblichen Sorgen" inclui-se na Cantata "Liebster Gott, wenn werd ich sterben" BWV 8, composta para o décimo-sexto Domingo depois da Santíssima Trindade, e datada de 24 de Setembro de 1724. Foi revista em 1746/47. O Evangelho do dia relata a ressurreição do filho da viúva de Naín, o que convida a mais uma reflexão sobre a vacuidade da vida e sobre a esperança da Ressurreição. Esta ária possui uma extensa e difícil parte para traverso solista, em diálogo com a voz. A Cantata "Ich steh mit einem Fuß im Grabe" BWV 156 foi escrita para o 3º Domingo após a Epifania, sendo apresentada pela primeira vez a 23 de Janeiro de 1729. A meditativa e eloquente Sinfonia deriva de um concerto para oboé, hoje perdido, e provavelmente datado dos anos de Cöthen, mas que sobrevive também como andamento central do concerto para cravo e orquestra BWV 1056.
A Cantata "Sehet, wir gehn hinauf gen Jerusalem" BWV 159 foi composta para o Domingo da Quinquagésima, tradicionalmente conhecido como "Estomihi" e que é o último Domingo antes do início da Quaresma. Apresentada a 27 de Fevereiro de 1729, foi última cantata apresentada antes da "Paixão segundo S. Mateus" e, tal como nesta, a poesia é da autoria de Picander, pseudónimo de Christian Friedrich Henrici, e que foi o principal libretista de Bach em Leipzig. Nesta cidade luterana a Quaresma era "tempus clausum", ou seja, um tempo penitencial em que não se admitia o uso de música concertante e com instrumentos na igreja, e por isso a execução de cantatas estava proibida. A sua temática centra-se no anúncio e meditação da Paixão. A ária de baixo cita as últimas palavras de Cristo na cruz: "- Tudo está consumado!"; o coral que se lhe sucede imediatamente, e que conclui a obra, é a última estrofe das trinta e três (tantas como os anos da vida de Jesus!) que compõe o hino "Jesu Leiden, Pein und Tod." Publicado originalmente por Paul Stockmann em 1633, constitui um extenso relato da Paixão. Bach utilizou o seu texto e a melodia tradicional a ele associada cinco vezes, três delas na sua "Paixão segundo S. João."
Fernando Miguel Jalôto, Fevereiro de 2020
Traduções dos Textos Cantados
Todas as traduções são da autoria de Fernando Miguel Jalôto
Ária: Leichtgesinnte Flattergeister
Espíritos frívolos, de mente ligeira,
furtam-se a si próprios do poder da Palavra.
Belial [o Demónio] com a sua descendência
procura, não obstante, obstrui-lo,
de forma a que se torne inútil.
Arioso: Betrachte, meine Seel, mit ängstlichem Vergnügen
Contempla, ó minha alma, com angustiado prazer
com amargo deleite, e coração contrito,
o teu maior bem, no sofrimento de Jesus.
Vê como para ti, dos espinhos que O perfuram,
florescem as pequenas "Chaves do Paraíso"*!
Podes colher muita fruta doce do seu lenho tão amargo;
por isso, contempla-O sem cessar!
[*uma flor: a Prímula selvagem]
Ária: Ächzen und erbärmlich Weinen
Gemidos e dolorosas lamentações
não ajudam ao padecimento das preocupações;
contudo, aquele que olha para o Céu,
e nele busca o seu conforto,
a esse um raio de alegria
pode facilmente iluminar o seu peito sofredor.
Recitativo: Der Heiland fällt vor seinem Vater nieder
O Salvador inclina-se diante de seu Pai;
e assim Ele eleva-nos todos acima de si,
da nossa queda, de novo até à graça de Deus.
Ele está pronto para beber o cálice da amargura da morte,
para a qual são vertidos os pecados deste mundo,
e que fede horrivelmente,
pois tal é agradável para o nosso amado Deus.
Ária: Gerne will ich mich bequemen
De bom grado eu forçar-me-ei a tomar a cruz e o cálice,
mas bebê-lo-ei depois do meu Salvador.
Ele, com a sua boca, de onde flui leite e mel,
tornou doce o amargo sabor da dor,
desde o seu primeiro trago.
Ária: Ja, ja ich halte Jesum feste
Sim, sim! Eu seguro Jesus com firmeza,
e sei que por isso também eu entrarei no Paraíso,
onde Deus e os convidados do Seu Cordeiro
estão já coroados para a boda.
Então não Te deixarei apartar de mim, meu Salvador,
e a Tua bênção permanecerá também sempre comigo.
Ah, quão agradável será o meu caixão,
pois Jesus está em meus braços!
Por isso o meu espírito pode agora repousar em verdadeira alegria!
Sim, sim! Eu seguro Jesus com firmeza,
e sei que por isso também eu entrarei no Paraíso, lugar maravilhoso!
Vem, suave morte, e leva-me embora,
para onde Deus e os convidados do Seu Cordeiro
estão já coroados para a boda.
Estou radiante, pois a miséria deste tempo hoje mesmo afastarei de mim;
pois Jesus aguarda por mim no Paraíso,
com a Sua bênção.
Então não Te deixarei apartar de mim, meu Salvador,
e a Tua bênção permanecerá também sempre comigo.
Ária: Doch weichet, ihr tollen, vergeblichen Sorgen
Mas, para quê tais preocupações tolas e inúteis?
O meu Jesus chama por mim: quem não iria?
Nada do que me agrada pertence a este mundo.
Alvorece para mim, abençoada, alegre manhã,
transfigurado e glorioso,
erguer-me-ei diante de Jesus.
Ária: Es ist vollbracht
Tudo está consumado,
a pena está completa,
do nosso estado de pecado,
em Deus fomos de novo reconstituídos.
Agora vou apressar-me,
a dar graças ao meu Jesus;
Mundo: boa noite!
Tudo está consumado!
Coral: Jesu, deine Passion
Jesus, a Tua paixão,
é para mim pura alegria;
as tuas feridas, espinhos e humilhação
é o sustento do meu coração;
aminha alma caminha sobre rosas,
quando sobre ela medito;
no Paraíso é ela que me garante
um lugar para mim.
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- Ficha artística
- Barítono | André Baleiro
- Ludovice Ensemble
- Traverso, flauta | Joana Amorim
Oboé barroco, oboé de amor, flauta | Pedro Lopes e Castro
Violino barroco I | Jacek Kurzydlo
Violino barroco II | Abel Balazs
Viola barroca | Raquel Massadas
Violoncelo barroco | Diana Vinagre
Contrabaixo barroco | Marta Vicente
Órgão positivo | Fernando Miguel Jalôto
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- Ficha técnica
- Classificação etária | M/6
- Duração aproximada | 76 min.
- Evento online
- Direitos reservados
- Texto e imagem
Rua D. João I,
4810-422 Guimarães