Leonor Barbosa de Melo, José Carlos Araújo e Nuno Cardoso
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- Concertos
Leonor Barbosa de Melo, José Carlos Araújo e Nuno Cardoso
“AS CANTATAS E SONATAS DE SCARLATTI; BACH E KUHNAU“
21:30
SINOPSE
Cantata é um tipo de composição vocal de carácter lírico. Roma foi o principal centro da Cantata do século XVII pelo facto de, no final deste século, terem sido suspensos os espetáculos de ópera pelo Papa Inocêncio XII nos estados Papais. Neste concerto ouviremos cantatas de Scarlatti e Bach. Ouviremos, também, das 6 Sonatas Bíblicas de Johann Kuhnau, a número 1 e 2.
BIOGRAFIAS
Leonor Barbosa
Licenciada e Mestre em Canto e Performance Musical pela Universidade Católica (orientada por A. Salgado e S. Serra), a soprano conimbricense já integra no seu currículo a participação em vários concertos a solo com orquestras nacionais de renome e sob a batuta de maestros de excelência, e em gravações de CDs (destacando-se a obra «Shadow Circles» de V. Mendonça com o Remix Ensemble e Pedro Neves). Angariou diversos prémios (como o primeiro prémio do concurso da Academia do Fundão). A par da sua carreira a solo, é cantora residente do Coro Casa da Música e maestrina do Coro dos Pequenos Cantores de Coimbra. Procurou sempre aprender com cantores de excelência como Monserrat Caballé, Elisabete Matos (com quem trabalha regularmente), Rudolf Piernay, Anna Tomowa-Sintow, entre outros.
José Carlos Araújo
José Carlos Araújo estudou cravo e órgão no Conservatório Nacional, nas classes de Maria Cândida Matos e Rui Paiva. Entre as numerosas masterclasses em que participou, foram especialmente importantes as aulas com Cremilde Rosado Fernandes, José Luis González Uriol, Gustav Leonhardt e Rinaldo Alessandrini.
É membro da orquestra barroca Divino Sospiro, com a qual realizou numerosas estreias modernas de obras do séc. XVIII. Tocou também com outras orquestras e agrupamentos, entre os quais a Orquestra Sinfónica Portuguesa, a Orquestra de Câmara Portuguesa, a Orquestra Metropolitana de Lisboa, o Ensemble MPMP, o Grupo de Música Contemporânea de Lisboa ou o Coro Gulbenkian. Apresentou-se com o Teatro da Cornucópia na produção d’A Tempestade de Shakespeare, sob a direção de Luís Miguel Cintra.
Iniciou a coleção discográfica Melographia Portugueza em 2012, com a gravação integral da obra para tecla de Carlos Seixas. Após os restauros do pianoforte van Casteel (1763) e do cravo Antunes (1789), realizou os concertos inaugurais de ambos os instrumentos no Museu Nacional da Música, o último dos quais em duo com Miguel Jalôto. Acompanhou também o complexo restauro do cravo Taskin de 1782 (Tesouro Nacional), processo distinguido com o Prémio de Conservação e Restauro da Associação Portuguesa de Museologia, em 2018.
Foram-lhe atribuídos o 1.º Prémio e o Prémio do Público do concurso Carlos Seixas (Sociedade Histórica da Independência de Portugal). Gravou para a RTP e para a Antena 2. Tem sido favoravelmente recebido o disco Passio Iberica, que gravou com Divino Sospiro, distinguido com 5 estrelas pela revista Musica (2019). Também com esta orquestra e com o flautista António Carrilho estreou obras de Nuno da Rocha, lançadas em CD em 2019 (O que será do rio?, MPMP). O seu 10.º disco, Carlos Seixas – Sonatas VIII (2020), constitui a primeira gravação do cravo Antunes de 1789, atualmente conservado na coleção instrumental do MNM e em classificação como Tesouro Nacional. Gravou também os primeiros discos a solo do pianoforte van Casteel e do órgão histórico de São Bento da Vitória, de 1719 (Porto).
Licenciou-se pela Faculdade de Letras de Lisboa, em Filologia Clássica. É investigador do Centro de Estudos Clássicos da Universidade de Lisboa, onde se tem dedicado ao estudo e à primeira tradução portuguesa do Epistolário de Plínio. Colabora regularmente em Euphrosyne – Revista de Filologia Clássica.
Nuno Cardoso
Nuno Cardoso nasceu em Lisboa e iniciou os estudos de violoncelo na Fundação Musical dos Amigos das Crianças com Luís Estêvão da Silva e com Luís Sá Pessoa. Licenciou-se pela Academia Nacional Superior de Orquestra na especialidade de Violoncelo, onde estudou sob a orientação de Paulo Gaio Lima. Paralelamente, frequentou a Licenciatura em Matemática na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Em Portugal e no estrangeiro, tem beneficiado de masterclasses com reconhecidos mestres, como Márcio Carneiro, Xavier Gagnepain, Hans Jørgen Jensen, Jan-Erik Gustafsson ou Rainer Zipperling. No domínio da música de câmara tem trabalhado com Paul Wakabayashi, Paulo Pacheco, Olle Sjöberg e Hans Pålsson. Co-fundador do MPMP – Movimento Patrimonial pela Música Portuguesa, foi também membro da Comissão de Redação da revista Glosas. Tem vindo a afirmar-se o duo que mantém com o pianista Duarte Pereira Martins, salientando-se os recitais nos ciclos Um Músico, um Mecenas, no Museu Nacional da Música, em Lisboa, nos violoncelos históricos de H. Lockey Hill (ca. 1800, Coleção Suggia) e J. J. Galrão (1769, Coleção Real), atualmente conservados naquela coleção instrumental. Na Suécia, trabalhou interpretação de música barroca com Peter Spissky e efetuou os estudos de Mestrado em Violoncelo na Musikhögskolan i Malmö da Universidade de Lund, na classe de Torleif Thedéen. É membro fundador do quarteto com piano Kvar Ensemble.
PROGRAMA
“Solitudine Amene“, A. Scarlatti (5’55)
“Poi che riseppe Orpheo“, A. Scarlatti (10’55)
Sonatas Bíblicas: Johann Kuhnau
Nº 1: “David e Golias”
Nº 2: “A cura de de Saul por via da Harpa de David”
“Andate o miei sospiri“, A. Scarlatti (10’33)
“Flösst mein Heiland“, J. Sebastian Bach (5’50)
NOTAS AO PROGRAMA
Cantata (particípio passado substantivado do verbo italiano "cantare") é um tipo de composição vocal de caracter lírico, usualmente estruturada em vários andamentos, escrita para uma ou mais vozes, às vezes também com coro, com acompanhamento instrumental, de inspiração religiosa ou profana. Surgida em Itália no século XVII, tendo evoluído paralelamente à ópera e à oratória, era executada sem cenários ou figurinos. Não sendo destinada ao teatro, opunha-se ao caracter narrativo e dramático da oratória e os seus textos escolheram preferencialmente descrições de situações psicológica. Foi cultivadíssima durante todo o Barroco. Durante o Classicismo e o Romantismo o género foi menos explorado. Só no século XX, com a sua paixão por revisitações, lhe deu de novo importância.
Roma foi o principal centro da Cantata no século XVII, até pelo facto de nos finais desse século o papa Inocêncio XII ter suspendido os espetáculos de ópera nos Estados Papais. Os compositores procuraram então o mecenato de nobres que, aproveitando a proibição, os contrataram para produzir espetáculos privados. O desenvolvimento posterior da cantata italiana ficou em grande parte nas mãos de compositores napolitanos.
Pietro Alessandro Gaspare Scarlatti (1660 –1725) foi um dos mais importantes compositores italianos barrocos, especialmente recordado pela sua extensa e brilhante carreira operática e pelo não menos extenso número de cantatas de câmara, que era o género mais intelectual da música de câmara na época. Compôs cerca de 600 delas, por vezes escritas à razão de uma por dia, muitas permanecendo ainda em manuscrito. Foi pai do compositor Domenico Scarlatti, que esteve em Portugal vários anos ao serviço da nossa corte como professor de música de D. Maria Bárbara, filha de D. João V.
É considerado como um dos mais importantes cultores de Cantatas, tendo ajudado a fixar-lhes a forma. A leveza das suas longas melodias, as suas aria da capo frequentemente dificílimas, os seus recitativos muito expressivos provam um inegável talento melódico e um dom apurado da harmonia como meio de expressão artística. Nas suas primeiras cantatas a distinção entre recitativo e ária tornou-se mais clara e o número de seções diminui. Nas obras posteriores a 1700 Scarlatti estabilizou a estrutura em duas ou três árias da capo separadas por recitativos. Este tipo foi cultivado por outros italianos, como Bononcini, Vivaldi, Marcello e mesmo por Handel durante a permanência deste compositor alemão em Itália (1705/6-10). Nascido em Palermo, cidade maior do reino da Sicília, Alessandro teve o mundo a seus pés. Foi maestro di cappella em Roma da Rainha Cristina da Suécia, foi maestro di cappella do vice-rei de Nápoles, gozou do patronato de Ferdinando de’Medici, foi maestro di cappella do Cardeal Ottoboni, que fez com que obtivesse posto similar na Basilica di Santa Maria Maggiore em Roma. Morreu em Nápoles em 1725.
O alemão Johann Kuhnau (1660 –1722), hoje principalmente conhecido como compositor, foi também novelista, tradutor, homem de direito e teórico da música. Conseguiu combinar todas estas atividades com o cargo oficial de Thomaskantor em Leipzig, que ocupou durante 21 anos, tendo sido sucedido por Johann Sebastian Bach.
Grande parte da sua produção musical que inclui óperas, missas e outras obras vocais de grande envergadura está perdida e a sua reputação hoje baseia-se principalmente nas quatro coleções de música para tecla que publicou entre 1689 e 1700. Particularmente importante é o último volume (que inclui um prefácio onde se explora a ideia de música de programa) intitulado Musicalische Vorstellung einiger biblischer Historien, popularmente conhecido como “Sonatas Bíblicas”. São seis sonatas, cada uma delas dedicada a uma história bíblica e estruturadas em vários andamentos contrastantes:
• A luta entre David e Golias
• A cura de Saul por via da harpa de David.
• O casamento de Jacob
• Doença e cura de Ezeqquias
• Gideon, Salvador de Israel
• A morte de Jacob e o seu funeral.
Ouviremos as duas primeiras. Kuhnau usa curiosamente uma série de efeitos de grande eficácia para descrever os acontecimentos narrados, bem como os estados psicológicos. Estes efeitos não se limitam a alterações de textura ou harmonia, mas inclui citações de corais protestantes e imitação de árias de ópera. Numerosas obras suas - produção teatral, cantatas, peças de música ocasional - estão perdidas.
Johann Sebastian Bach, autor das monumentais Paixões e de algumas das mais marcantes obras sacras do repertório musical ocidental, deixou-nos um corpo importantíssimo de cantatas, sacras e profanas, formado por mais de 200 obras.
Na parte final do concerto de hoje ouviremos a ária “Flösst mein Heiland”, presente na quarta das seis cantatas que compõem a Oratória de Natal, monumental obra apresentada em 1734 incorporando cantatas anteriores.
Jorge Rodrigues.
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- Ficha artística
- Soprano | Leonor Barbosa de Melo
- Cravo | José Carlos Araújo
- Violoncelo | Nuno Cardoso
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- Ficha Técnica
- Classificação etária | M/6
- Duração aproximada | 60 min.
- Evento online
- Direitos reservados
- Texto e imagem
Rua Conde D. Henrique,
4810-412 Guimarães