Délia Carvalho
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Délia Carvalho
Nasceu em França no ano de 1975. Atualmente vive e trabalha em Guimarães.
As pinturas e os desenhos da Délia tratam de Outros, dos seus rostos e olhares. Estamos nós, que olhamos, e estão esses Outros, que também parecem fitar-nos. Os quadros vêm-nos, dizia Klee, aludindo ao que neles interroga e desacomoda o olhar do leitor, que quer ajustar-se ao que vê e, na ilusão da transparência, quer reconhecer, “descodificar” o que neles se representa.
Vou e venho até estes quadros em miríades de olhadelas e, sempre que os meus olhos regressam, trazem com eles os olhos que exorbitam nestes rostos. Diante deles, somos reféns. Há uma ética e uma poética do rosto, que pede que nos abismemos não no rosto, mas neste, naquele rosto que se presentifica diante do nosso. Porque o rosto é identidade, singularidade, relação. É, como disse Lévinas, “ao mesmo tempo interdito e súplica, majestade e indigência”. Pelo olhar, o rosto do Outro diz-nos ou poderia dizer-nos: amo-te, odeio-te, cuida de mim, abraça-me, deixa-me ser quem sou, sou senhor de mim… – cada olhar do Outro traz os seus pedidos, os seus avisos, implica nele o nosso. Em definitivo, como princípio sagrado, nunca lhe fazer mal e, tanto quanto se possa, fazer-lhe bem.
Na presença do rosto, a minha soberania e a minha liberdade não podem ser ilimitadas. E isto é recíproco: “O meu ser e os meus direitos são-me dados pelo Outro” numa época que valoriza as singularidades – a minha, a tua, a dele, a dela – que, reconhecidas e fortalecidas, se devolvem à relação mais autêntica entre os “eu” e “tu”, partilhando liberdade e responsabilidade.
Amadeu Santos
A artista integra o GUIMARÃES PROJECT ROOM.

Fotografia | José Miguel Teles
Texto | Direitos reservados